Ao mudar a Libertadores para aumentar seu valor de mercado, a Conmebol ignorou esse mesmo mercado na hora de distribuir cotas da competição. Não houve alteração na divisão igualitária com prêmios por avançar de fase em política oposta a da Liga dos Campeões que valoriza os países que geram mais dinheiro. Os maiores prejudicados foram os clubes brasileiros, que geram a maior receita da competição. A fase de grupos da nova Libertadores começa nesta terça-feira.
A Conmebol vende os direitos de marketing e televisão da Libertadores em um pacote único, o que deve mudar a partir de 2019. Só que a televisão que compra, no caso a Fox, tem como principal objetivo obter receitas no Brasil e na Argentina.
O potencial brasileiro é muito maior do que o do país vizinho tanto que a confederação sul-americana inflou para oito times nacionais nesta edição. Ao mesmo tempo, manteve a cota fixa na fase de grupos: US$ 1,8 milhão, e prêmios crescente por cada fase que se as equipes avançam. Um time campeão pode chegar a US$ 8 milhões independentemente de qual seu país de origem.
Na Liga dos Campeões, as cotas são divididas em 60% por valores fixos e premiações por desempenho, e outros 40% por mercado. Ou seja, o clubes do países que geram os maiores contratos de tv locais ficam com mais dinheiro. Para dividir esse montante de mercado entre os times de cada nação, é usado um critério esportivo: desempenho nacional e dentro da própria Liga dos Campeões. No total, 507 milhões de euros serão divididos dessa forma na atual temporada.
Na última edição encerrada, 2015/2016, o Manchester City foi o clube que mais arrecadou 83,9 milhões de euros, acima do campeão Real Madrid que ficou com 80,1 milhões de euros. Isso porque o mercado espanhol gera receita menor do que o inglês. Na Libertadores, de nada vale gerar mais dinheiro para a competição.
”Não tem nenhum mercado como o brasileiro. A Libertadores se apropria, mas não traz nada para esse mercado”, analisou o coordenador de curso de gestão da FGV/Fifa, Pedro Trengouse. ”A solução para Conmebol aumentar suas receitas seria expandir a competição para o mercado americano e canadense.”
O consultor em marketing esportivo, Amir Somoggi, vai além e estima que metade do mercado da Libertadores é originário do Brasil. E dá um exemplo de que um jogo entre o Atlético-MG atinge uma cidade grande como Belo Horizonte, enquanto do outro lado muitas vezes estão times de locais com pouco potencial econômico.
”O critério da UEFA é de mercado, pelo markting pool. A Itália, por exemplo, não tem muita renda de jogo, mas gera bastante de televisão”, contou. ”Desde que fundou a nova Liga dos Campeões, a UEFA considerou a meritocracia.”
Ele atribuiu à falta de poder político dos clubes brasileiros o fato de a Conmebol não fazer o mesmo na América do Sul. ”No caso do Brasil, não fala o mesmo idioma, a sede fica em um país de língua espanhola. A Conmebol dá mais atenção aos países de língua espanhola.”
Em resumo, na hora de arrecadar, a confederação sul-americana olha para o Brasil, mas, na hora de distribuir o dinheiro, pensa nos países vizinhos.
Uol