Bárbara Martau/Opovonews – Foto: Arquivo pessoal
Uma professora de 34 anos, vítima de aneurisma cerebral, está internada há 100 dias no Hospital Luis Eduardo Magalhães, em Porto Seguro, à espera de transferência para algum hospital que disponha de serviço de neurocirurgia com UTI e aparelho de angiografia, visto que o HLEM não dispõe desse equipamento. A família de Ducilene Ribeiro Souza obteve na Justiça duas liminares obrigando o estado e o município a garantir a transferência dela no prazo de 24 horas, mas a ordem judicial vem sendo descumprida há dois meses. De acordo com familiares, a solução do caso emperra na Central Estadual de Regulação de Vagas, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde, em Salvador.
A paciente precisa fazer a angiografia – exame que mostra a circulação sanguínea no cérebro – para determinar com exatidão qual o tratamento médico que o caso requer, inclusive com possibilidade de cirurgia. Ela chegou a ser levada para ser submetida ao exame em Teixeira de Freitas, mas chegando lá o equipamento quebrou e ela retornou a Porto Seguro. As outras três tentativas de exame falharam, pois para a realização da angiografia é preciso que o paciente esteja sem febre, o que não vem sendo possível porque, devido ao longo tempo de internação, a condição de saúde da paciente está piorando. Por isso os médicos recomendam que ela seja transferida para um hospital que disponha do aparelho de angiografia e de uma UTI neurológica, o que seria possível em Salvador.
A família elogia o grande empenho da equipe médica do Hospital Luis Eduardo Magalhães e também da secretária municipal de Saúde, Edna Alves, para obter a vaga em outro hospital. Porém, critica o que considera má vontade da coordenação geral da Central Estadual de Regulação. “Lá em Salvador eles alegam que primeiro tem que fazer o exame para depois transferir. Mas se não for transferida, minha filha não consegue ficar estável para realizar o exame”, pondera a mãe de Ducilene, Dinalva Ribeiro Souza.
Liminares
A liminar assinada no dia 9 de maio pelo juiz André Strogenski, da Vara Criminal de Porto Seguro, determinava que, devido ao risco de morte, o município de Porto Seguro e o Estado da Bahia deveriam fornecer à paciente, no prazo de 24h, transporte em UTI aérea com equipe profissional para acompanhá-la e o Estado deveria garantir internação em hospital provido de neurocirurgia com UTI, sob pena de responsabilidade civil e criminal, bem como multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento.
No dia 26 de maio, o juiz intimou o município e o Estado a cumprirem a ordem judicial, sob pena de responderem criminalmente pela desobediência, e aumentou a multa diária para R$ 25 mil. Apesar disso, a ordem continuou sendo descumprida.
Histórico familiar
Com histórico familiar de AVC, Ducilene deu entrada no HLEM no dia 14 de abril com hemorragia cerebral, e ficou vários dias em coma induzido. Assim que perceberam a gravidade da situação, os médicos pediram a transferência da paciente para um hospital com mais recursos. Enquanto aguardava, aos poucos ela foi melhorando e, graças à fisioterapia, já estava inclusive dando os primeiros passos no quarto.
No entanto, infecções fizeram com que Ducilene se debilitasse novamente, chegando ao ponto de, atualmente, encontrar dificuldade até mesmo para falar. De acordo com o boletim médico, a paciente apresenta “complicações clínicas devido à extrema demora para resolução do caso”. Ainda conforme os médicos que a atendem, ela corre risco de sofrer nova hemorragia cerebral, entrar em coma, ficar em estado vegetativo permanente e até mesmo morrer caso não receba o atendimento adequado.
Parentes sofrem
Ducilene e a família moram em Trancoso, Porto Seguro. Diariamente os parentes se revezam no hospital. A mãe teve que fechar o ponto comercial no qual trabalha para estar com a filha. Ela alterna as visitas diárias ao hospital com o genro, que também deixou o trabalho para cuidar da esposa.
A irmã de Ducilene, que também é professora, foi outra da família que teve de deixar temporariamente o emprego para cuidar dos quatro sobrinhos. Dona Dinalva conta que as crianças, com idades entre 12 anos e 5 anos, estão muito abaladas emocionalmente devido ao clima de incerteza e à falta que sentem da mãe.