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‘Tentou matar e foi cauteloso em destruir provas’, afirma promotor que pediu prisão de médico suspeito de jogar jovem de prédio

O promotor de Justiça do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Davi Gallo, responsável pelo pedido de prisão do médico Rodolfo Cordeiro Lucas, deu detalhes sobre o inquérito do caso, nesta quinta-feira (5). O homem é suspeito de tentar matar a também médica Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo, ex-companheira dele.

O processo foi encaminhado à Justiça. Sáttia caiu do 5º andar do prédio em que vivia com Rodolfo, na madrugada do dia 20 de julho do ano passado, no bairro de Armação. Rodolfo, agora réu, alega que a jovem tomava remédios controlados e tentou cometer suicídio. No entanto, o inquérito policial concluiu que, na verdade, ele tentou cometer um feminicídio.

Rodolfo chegou a ser detido em flagrante, teve prisão convertida, mas foi solto pela Justiça e responde pelo crime em liberdade. De acordo com Gallo, a nova prisão preventiva foi pedida porque Rodolfo representa uma ameaça à integridade física da vítima e ao processo, já que há possibilidade de coação de testemunhas.

O promotor de Justiça também afirmou que Rodolfo planejou todo o crime e que tentou descredibilizar a estabilidade mental e emocional da vítima, tanto para os amigos, quanto para a polícia, em depoimentos.

“Na premeditação, ele tenta passar a imagem de que ela é desequilibrada emocionalmente. Mas não existe crime perfeito, existe crime mal investigado. Ele tentou matar ela e foi muito cauteloso em apagar provas. Ele queria provar que ela era instável emocionalmente”.

“Eu ouvi pessoalmente a vítima, e ela está plenamente consciente de todos os atos: antes, durante e depois do crime. Ele agiu de forma fria, cruel e covarde. E também temos indícios de que o réu premeditou crime com certa antecedência”, disse Gallo.

Sáttia Lorena e Rodolfo Cordeiro, suspeito de tentar matá-la em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia

Sáttia Lorena e Rodolfo Cordeiro, suspeito de tentar matá-la em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia

Sáttia teve todos os ossos do rosto fraturados, chegou a ficar em coma e já passou por algumas cirurgias. O promotor deu ainda detalhes sobre a conclusão policial, que não havia sido divulgada antes.

No momento em que teria sido atacada por Rodolfo, Sáttia fazia exercícios físicos próxima à cama, que fica “embaixo” da janela do quarto.

“Ela sempre praticou exercícios, era uma corredora, e com a pandemia estava praticando em casa. Ele pediu a ela que assinasse a receita de um remédio controlado. Ela assinou para ele e ele foi na farmácia comprar o remédio”, contou Gallo.

“Ele comprou receita para atribuir a ela, dizer que ela estava dopada, para fazer acreditar que ela tomava o remédio. A premeditação dele se dá nesse momento. Ele tomava o remédio e misturava com álcool, mas disse à polícia que na verdade ela quem tomava. Ela nem consumia bebida alcoólica, então daí começamos a perceber a premeditação do crime”.

A titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Bianca Torres, reiterou as informações do promotor.

“Ela não ingeria bebida alcoólica. Quando a polícia chegou no apartamento, encontrou várias garrafas de bebidas espalhadas e ele tentou usar isso para criar a narrativa de que ela era instável. Mas temos provas de que ela pedia ajuda à mãe. Como os pais dela não moram em Salvador, havia essa dificuldade”.

“Não foi um caso de violência doméstica, foi um caso de tentativa de feminicídio e por motivo torpe. Ele não esperava que ela ia sobreviver. Ele não esperava que tivesse alguém para contradizer a versão dele”, disse a Bianca Torres, titular da Deam.

 

Prédio onde mulher caiu fica no bairro Jardim Armação, em Salvador — Foto: Cid Vaz/TV Bahia

Prédio onde mulher caiu fica no bairro Jardim Armação, em Salvador — Foto: Cid Vaz/TV Bahia

Depois de voltar da farmácia, Rodolfo teria encontrado Sáttia dançando, praticando os exercícios físicos. Segundo o promotor, nesse momento ele passou a atacar ela fisicamente.

“Ele entrou abruptamente e começa a agredi-la fisicamente. Ele tentou esganar e ela gritou por socorro. Pediu socorro, ajuda, os vizinhos ouviram e ninguém fez nada”, detalhou o promotor.

“Ela conseguiu se desvencilhar dele e ficou em pé na cama. Quando ela conseguiu ficar em pé na cama, ele começou a empurrá-la, para que ela caísse. Só que ela conseguiu se segurar na janela, e nesse momento os vizinhos já estavam vendo”, complementou.

Sobre a versão do suspeito, de que na verdade teria tentado ajudar Sáttia, ao invés de jogá-la do prédio, Davi Gallo foi enfático ao falar que Rodolfo mentiu em depoimento.

“Ele começou a tirar os dedos dela da janela, e ela caiu de altura mais de 15 metros. Ele diz que estava tentando salvar ela, mas estava tentando derrubar ela. Tirou dedo por dedo, daquela menina que tentava se segurar. Ela é uma moça pequena, magrinha. Se ele quisesse salvá-la, ele a teria puxado pelo braço, não soltado os dedos dela”.

“Ele é um homem agressivo e violento. Aquela moça lutou pela vida”, avaliou Gallo.

Obstrução da Justiça

 

Médico Rodolfo Cordeiro Lucas teve prisão preventiva revogada na amnhã desta segunda-feira (27).  — Foto: Reprodução / TV Bahia

Médico Rodolfo Cordeiro Lucas teve prisão preventiva revogada na amnhã desta segunda-feira (27). — Foto: Reprodução / TV Bahia

O promotor também criticou a postura da defesa de Rodolfo, e disse que o advogado do réu está tentando atrasar o processo, porque as provas são contundentes.

“Simular o suicídio dela é uma grande prova de obstrução da Justiça. Ele querer atribuir a ela a pratica do fato, já é a prova cabal de que ele quer atrapalhar as investigações. Se ele foi capaz de simular um suicídio, a morte de uma pessoa, o que ele não vai ser capaz de fazer com as testemunhas? Ou pior: o que ele não é capaz de fazer com ela?”

A delegada Maraci Menezes foi a plantonista responsável por registrar a ocorrência e prender Rodolfo em flagrante. Ela também falou sobre a simulação da tentativa de suicídio de Sáttia.

“Durante a entrevista, os policiais militares me informaram que foram acionados por moradores, que disseram que tinha uma mulher caída do prédio. Quando chegaram, a moça caída estava sendo atendida pelo Samu. Os porteiros informaram da discussão, diversos moradores interfonaram falando que havia discussão com gritos de socorro. Tocaram campainha, mas ninguém atendeu”

“Quando ela foi encontrada no chão, a todo momento ela pediu para que não a deixassem morrer. Quem quer cometer suicídio, não pede para não morrer. Os policiais conduziram para delegacia e eu o autuei em flagrante por tentativa de feminicídio”.

Para a delegada Maraci, também não há dúvidas de que Rodolfo tentou matar Sáttia. Ela também chamou atenção para o comportamento da sociedade nesse tipo de crime.

“Nós autuamos em flagrante um homem que tentou matar sua companheira. Eu reforço: em briga de marido e mulher, as pessoas precisam denunciar, precisam acionar a polícia. As mulheres são vítimas diariamente de seus companheiros, ex-companheiros, e nós, sociedade como um todo, temos que nos mobilizar”.

 

Gallo também disse que a defesa alegou suspeição dos peritos indevidamente, um recurso usado quando os agentes têm amizade ou inimizade com algum dos interessados, o que pode levar a uma parcialidade nos laudos.

“Se um indivíduo foi capaz de premeditar contra sua companheira e colega de trabalho, porque ela também é médica, imagine o que ele é capaz de fazer solto e sabendo que vai ser processado. É logico que ele vai tentar obstruiu o andamento do processo. O que ele já vem fazendo, à medida que arguiu a suspeição dos peritos. Por isso, eu não vi outra saída, a não ser a prisão preventiva dele”.

“O MP fez a denúncia e pediu a preventiva porque solto ele vai continuar praticando atos criminosos, o que abala a ordem pública. Ele vai coagir testemunhas e sobretudo a vítima”.

 

Polícia fez reconstituição do caso Sáttia Lorena, a a médica que caiu de prédio durante briga com companheiro em Salvador — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Polícia fez reconstituição do caso Sáttia Lorena, a a médica que caiu de prédio durante briga com companheiro em Salvador — Foto: Divulgação/Polícia Civil

A defesa de Rodolfo pediu à Justiça para que os laudos da perícia fossem retirados dos processo. Para Gallo, essa é uma manobra usada pelo advogado para atrasar o julgamento do réu.

“Ele e a defesa dele estão fazendo tudo para procrastinar o processo. Se fazem do ditado: ‘quanto mais o tempo passa, mais o povo esquece’. Mas não vamos deixar esquecer, ainda mais nesse momento em que estamos discutindo os altos índices de violências praticadas contra as mulheres”.

“Ele só não conseguiu matá-la por circunstâncias alheias à vontade dele. Com ele solto, tenho medo que ele termine o serviço. Ele é um homem frio, calculista e premeditou o crime. E acima de tudo, é um covarde”, avaliou o promotor.

O promotor disse ainda que a defesa do réu pede a exclusão da reconstituição do crime do processo, e também alegou suspeição do perito responsável.

“A defesa não aceita reconstituição do crime. De qualquer forma, nós vamos pedir outra reconstituição. Até porque, a primeira perícia foi feita sem o depoimento da vítima, só a palavra dele permaneceu. A nova reconstituição não foi feita até a presente data porque a defesa entrou com pedido de suspeição do perito”.

Relacionamento abusivo

Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo está internada após cair de prédio em Armação, bairro de Salvador. — Foto: Redes Sociais / Reprodução

Familiares e amigos de Sáttia já haviam dito, inclusive em depoimento, que ela vivia um relacionamento abusivo com Rodolfo, e afirmaram que ele foi o responsável pela queda da médica. Essa versão da história foi comprovada pelas delegadas Bianca e Maraci, à medida em que o caso foi investigado.

“Nos autos temos elementos suficientes de que ela vivia em um relacionamento abusivo. Ele a obrigou a excluir redes sociais, controlava ela, as roupas dela. Fazia ela tirar a maquiagem. Ele tem o perfil típico do abusador, manipulador”, exemplificou Bianca.

Davi Gallo também falou sobre as provas de que Sáttia era agredida e que Rodolfo a controlava, independentemente do resultado pericial.

“Nós momento temos provas contundentes, independentes da perícia. Ela já vinha sendo agredida, se queixou com mãe de que queria se separar. No apartamento tem coisas quebradas e sangue dela. Quando ela chegava em casa, ele vigiava mensagens do celular dela, vigiava ela o tempo inteiro. Tinha um ciúme doentio de um colega de trabalho dela, que tirava plantões para ela. Esse crime tem requintes de perversidade”.

“Ele tem um controle obsessivo compulsivo por ela, aliado a essa mania que alguns homens têm de propriedade. Tratava ela como objeto e, por ela ser uma mulher bonita, ele tratava ela como troféu. Controlava ela, as mensagens dela. Ele pegou todos os defeitos dele e atribuiu a ela. Sempre foi violento com ela. Ela se sustentou na relação, no início, por amor. No final foi por medo”, argumentou Gallo.

O que diz a defesa de Rodolfo Lucas

Durante o programa Bahia Meio Dia, da TV Bahia, o advogado de Rodolfo Lucas, Gamil Föppel, afirmou que a perícia da Polícia Civil aponta que a médica pulou da janela e que o fato também foi relatado por testemunhas.

“Em primeiro lugar, a perícia da Polícia Civil da Bahia comprova que a trajetória da queda é compatível com o ato de lançamento voluntário, ou seja, que ela pulou. Em segundo lugar, diversas testemunhas presenciais viram e assistiram quando essa senhora pulou do prédio e Rodolfo tentou evitar que ela fizesse isso”, disse o advogado.

Gamil Föppel também relatou que a médica teria ingerido substâncias entorpecentes antes de pular e teria enviado mensagens para o ex-companheiro, com agradecimento por ele ter evitado que ela tentasse se matar.

“Em terceiro lugar, a mesma Polícia Civil da Bahia, através do lado pericial, dá conta que essa senhora teria ingerido diversas substâncias entorpecentes, antes mesmo de pular. Consta nos atos mensagens mandadas pela senhora Sáttia agradecendo ao Rodolfo, pelo fato de ela ter evitado que ela atentasse a sua própria vida”, contou.

Segundo a defesa de Rodolfo Lucas, o médico contribuiu em todas as etapas da investigação. Gamil Föppel informou ainda que não entende a posição do Ministério Público.

“Rodolfo nada fez para ser preso, ao revés, contribuiu com todos os atos da investigação. A defesa somente não entende o motivo de o Ministério Público fechar os olhos para a realidade dos fatos, porque poucas vezes na vida vi um pedido de prisão preventiva ser processado sem ser em sigilo, poucas vezes na vida vi um pedido de prisão preventiva não ser encartado nos atos, respeitando o que se chama de princípio da oportunidade”, relatou.

“A defesa técnica portanto confia que o Poder Judiciário da Bahia não se cale diante dessa tentativa vã e tola de jogar a opinião pública diante do judiciário”.

Caso e investigação

O caso aconteceu na madrugada do dia 20 de julho, durante uma discussão do casal no prédio onde eles moravam, no bairro de Armação, na capital baiana. Sáttia Lorena chegou a ficar em coma induzido e foi ouvida pela polícia cerca de um mês depois do ocorrido.

Em depoimento à polícia, Rodolfo negou que tenha jogado Sáttia do apartamento e disse que a médica se dopava e estava depressiva, versão negada pela família dela.

Uma vizinha do prédio em que Sáttia morava antes de se mudar com o companheiro também relatou que relação do casal era marcada por brigas, e que chegou a ver a médica pedindo socorro.

A irmã de Sáttia disse, em depoimento à polícia, que a médica desabafou sobre humilhações que o médico a submetia. Jacqueline Aleixo afirmou que Rodolfo controlava as roupas de Sáttia e que ela teve que sair da academia de ginástica e desativar redes sociais por causa do ciúme do companheiro.

Fonte: G1 BA

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