Por: G1/Santos
A adolescente de 14 anos que gravou um vídeo sendo estuprada pelo padrasto, de 44, e denunciou o caso à polícia, contou ao G1 nesta sexta-feira (18) que os abusos aconteciam enquanto a mãe dormia, na mesma residência. Os três moravam juntos em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Desde a denúncia, a garota está vivendo com o pai e a madrasta. O suspeito, que chegou a alegar à família que estava “possuído pelo diabo” ao cometer os crimes, está desaparecido. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Segundo a vítima, os abusos aconteciam desde os 7 anos. O homem é casado há 12 com a mãe dela, e os três moravam juntos em uma residência em Praia Grande. Há alguns meses, os crimes sexuais passaram a ser mais frequentes.
“Coloquei na minha cabeça que iria contar antes do meu aniversário”, relata a adolescente. Para revelar à mãe e à irmã, ela esperou o momento em que tivesse alguma prova do crime, para que não houvesse dúvidas sobre os abusos.
A oportunidade surgiu no mês passado, quando o padrasto achou que ela estivesse dormindo e começou a praticar o estupro. Ela pegou o celular, que estava escondido sob as cobertas, e gravou parte do ato. Na semana seguinte, tomou coragem e contou à irmã mais velha, que a apoiou.
A adolescente conta que, quando mais nova, os abusos sexuais aconteciam apenas quando a mãe estava fora de casa, trabalhando. No entanto, com o passar do tempo, o padrasto passou a estuprá-la nos momentos em que a mãe estava dormindo – no quarto ao lado da mesma residência.
A mãe jamais percebeu qualquer indício dos crimes, mas, quando soube, a apoiou e a acompanhou à delegacia para registrar o caso.
Três vezes por mês
A vítima relata que os estupros aconteciam, em média, três vezes por mês. “Eu sabia quando ia acontecer. Quando ele estava muito carinhoso, eu já sabia o que iria acontecer mais tarde”. A adolescente se refere a ‘brincadeiras’ do padrasto com as enteadas – baseadas em abraços e ‘toques na bunda’ delas, como contou a irmã mais velha dela ao G1.
Desde a denúncia, no mês passado, a garota está morando na casa do pai e da madrasta. A mãe segue na casa de familiares, enquanto o homem, expulso de casa com o auxílio da Polícia Civil, não foi localizado pela reportagem. Apesar de não decretar a prisão preventiva ao investigado, a Justiça concedeu medida protetiva à vítima.
“Me sinto leve por ter tirado esse peso das costas, mas não sei explicar, também, o que eu sinto. Me surpreendi com a reação de algumas pessoas”, disse a vítima.
Gravou o estupro
A denúncia só foi possível, segundo a própria adolescente, porque ela conseguiu gravar o abuso sexual. Para não ser denunciado, ele ameaçava a garota, e também pegava o celular dela antes dos abusos, para que não fosse registrado de nenhuma forma.
Na semana seguinte à gravação, ela procurou a irmã mais velha, que não mora com eles, para denunciar o estupro. As duas contaram à mãe e, após ver o vídeo, as três foram à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Praia Grande registrar a denúncia.
‘Possuído’
Após a denúncia à polícia, quando a família decidiu confrontar o homem e expulsá-lo de casa, ele chegou a confessar o crime para a esposa, segundo conta a irmã, que prefere não se identificar. “Minha mãe conversou com ele, chorando. Ele confessou para ela, e falou que era tudo culpa do diabo”, relata.
“Disse que se arrepende, que espera que a família perdoe ele. Disse que, à noite, algo puxava ele e falava para ele fazer, que era mais forte que ele, que estava possuído. Ele disse que sabe que estragou uma vida, mas falou tentando comover minha mãe”, completa a irmã.
Investigação
Um boletim de ocorrência foi registrado na DDM de Praia Grande, que investiga o caso. A adolescente passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), mas o resultado ainda não ficou pronto.
Segundo apurado pelo G1, a Polícia Civil solicitou à Justiça a prisão preventiva do suspeito assim que recebeu a denúncia com o vídeo, mas o pedido não foi acatado pelo juiz de plantão. Mesmo assim, foi pedida a medida protetiva de urgência, com deferimento de distanciamento mínimo de 500 metros da vítima.
O pai da garota, que também preferiu não se identificar, disse que o homem desapareceu após ser expulso de casa. “Já era para ele estar preso. Ele saiu do serviço e ninguém sabe onde ele está. Se escondeu”, contou. O pai alega, ainda, que irá constituir um advogado para atuar no caso. “A Justiça está indo muito devagar”, conclui.